7 Formas de Usar o Existencialismo no Tarot para Leituras Mais Profundas
O tarot secular é muito mais do que um conjunto de cartas ilustradas. Ele é, para mim, um espelho simbólico, um espaço seguro onde podemos olhar para dentro e confrontar nossas próprias narrativas. Ao longo dos anos, percebi que essa prática tem uma afinidade natural com uma corrente filosófica específica: o existencialismo.

Essa filosofia, nascida no calor do século XX com pensadores como Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Albert Camus e Søren Kierkegaard, nos lembra que a vida não vem com manual. Não há um sentido predeterminado esperando ser descoberto — nós o criamos, passo a passo, escolha a escolha.
Trazer essa perspectiva para o tarot secular mudou profundamente minha forma de conduzir leituras. Deixei de lado a ideia de “prever” e passei a explorar, junto com quem se senta à minha mesa, como criar a vida que deseja viver.
Como descobri que Sartre e o tarot falam a mesma língua
Lembro nitidamente de uma tarde nublada, com o som de chuva batendo na janela e o cheiro de café recém-passado. Uma amiga próxima, que também já tinha feito leituras comigo antes, chegou com uma pergunta direta:
— O tarot pode me dizer se devo largar meu emprego agora ou esperar mais um pouco?
Ao virar as cartas, vi o Oito de Espadas, o Dois de Paus e o Louco. O cenário era claro: ela se sentia presa, vislumbrava possibilidades e tinha diante de si a liberdade de um salto para o novo.
Foi ali que uma frase de Sartre ecoou na minha mente: “O homem está condenado a ser livre.” Ou seja, mesmo que ela quisesse, não havia carta que pudesse decidir por ela. A liberdade não era uma opção a ser aceita ou recusada — ela já estava lá, inevitável.
Essa consciência mudou a conversa. Em vez de responder “sim” ou “não”, falamos sobre medos, sobre o que ela perderia e ganharia em cada caminho, sobre como seria viver com a escolha tomada. E percebi: o tarot, assim como o existencialismo, não entrega respostas prontas; ele abre espaços para perguntas melhores.
O que o existencialismo no tarot pode ensinar sobre escolhas
O existencialismo parte de um ponto central: não existe um destino pronto. Somos autores da nossa história, e isso é ao mesmo tempo libertador e assustador.
Aplicando isso ao tarot secular, a pergunta deixa de ser “o que vai acontecer?” e passa a ser “o que posso construir a partir daqui?”. Esse deslocamento muda toda a energia da leitura.
Pense na carta do Louco. Na visão determinista, ela pode ser interpretada como “você vai iniciar algo novo em breve”. Já na lente existencialista, o foco é outro: quais são as consequências e a responsabilidade desse salto? O tarot deixa de ser um anúncio do que virá para se tornar um convite à ação consciente.
E, claro, isso exige coragem. Kierkegaard chamaria isso de “salto da fé” — não no sentido religioso, mas no ato de se lançar ao desconhecido confiando na própria capacidade de criar significado.
A liberdade radical e o papel ativo do consulente
Uma das ideias mais potentes de Sartre é a da “liberdade radical”. Não importa o quanto tentemos fugir, somos livres para escolher — até mesmo escolher não escolher.
Em muitas leituras, vejo pessoas querendo uma autorização externa: “o tarot pode me dizer se é a hora de terminar meu relacionamento?”, “o tarot pode me garantir que vai dar certo?”.
No existencialismo no tarot, a resposta é: o tarot pode mostrar caminhos, cenários e possíveis consequências, mas quem decide é você.
Lembro de um cliente que tirou a carta da Justiça numa leitura sobre mudança de cidade. Ele queria que eu dissesse “vá” ou “fique”. Em vez disso, exploramos juntos o que significaria cada escolha. Quando se deu conta de que a carta não estava dizendo “sim” ou “não”, mas pedindo que ele olhasse para as consequências e assumisse a autoria da decisão, ele me disse:
— Isso é libertador e assustador ao mesmo tempo.
E eu sorri, porque essa é exatamente a sensação de viver de forma existencialista.
A angústia existencial refletida nas cartas
A angústia de que fala Kierkegaard não é apenas sofrimento, mas a vertigem diante da possibilidade infinita. Sartre complementa: essa angústia surge quando percebemos que estamos completamente livres e, portanto, completamente responsáveis.
No tarot, essa sensação se manifesta em cartas que indicam rupturas e transformações — como a Torre, a Morte ou o Nove de Espadas. Elas não chegam para punir, mas para mostrar que algo precisa ser encarado de frente.
Já acompanhei leituras em que a Torre surgia e o consulente ficava em silêncio por longos segundos, digerindo o impacto. Nesses momentos, não tento preencher o vazio com promessas otimistas. Em vez disso, deixo o espaço para que a pessoa sinta a realidade daquela carta, e então pergunto:
— Diante disso, o que você quer criar agora?
Essa pergunta abre portas que nenhuma previsão mágica conseguiria.
O sentido é criado, não revelado
Albert Camus nos lembra que a vida é essencialmente absurda — não no sentido de inútil, mas no de não possuir um sentido pré-definido. Isso pode ser desesperador para alguns, mas também é a chave para a liberdade.
No tarot secular, não vemos as cartas como verdades absolutas. Elas são símbolos que ganham vida na interação com quem as lê e com quem as recebe.
Quando o Eremita aparece, por exemplo, não significa “você será obrigado(a) a se isolar”. Pode significar recolhimento para quem está sobrecarregado, mas também introspecção estratégica para quem busca clareza. O sentido é moldado pela história que contamos juntos — e, no existencialismo, essa história é sempre escrita no presente.
Responsabilidade pessoal na interpretação
Aplicar o existencialismo no tarot não é apenas mudar o discurso para o consulente. É também assumir, como taróloga, a responsabilidade ética sobre as palavras que escolho.
A interpretação nunca é neutra. Por isso, evito frases fechadas como “isso vai acontecer com você” ou “essa carta significa que tal coisa vai dar errado”. Em vez disso, uso construções como:
- “Essa carta, nesse contexto, pode indicar…”
- “Isso abre a possibilidade de…”
- “Você pode considerar que…”
Esse cuidado mantém a autonomia do consulente intacta e reforça que a decisão — e o poder — estão nas mãos dele.
O valor do silêncio e do vazio nas leituras
No existencialismo, o vazio não é ausência, é espaço para criação. No tarot, aprendi que pausas e silêncios têm um poder transformador.
Em uma leitura marcante, ao virar a carta da Morte para uma cliente que estava passando por um divórcio, simplesmente respirei fundo e deixei que ela olhasse a imagem. Ela ficou observando por quase um minuto antes de dizer:
— Acho que estou pronta para deixar essa fase morrer.
Não foi minha fala que trouxe esse insight. Foi o silêncio, o tempo dado para que ela preenchesse o vazio com seu próprio significado.

Cartas que mais dialogam com o existencialismo
Embora qualquer carta possa ser lida com essa lente, algumas conversam diretamente com conceitos-chave do existencialismo:
- O Louco: liberdade e risco da criação de si.
- A Justiça: consciência de que toda escolha tem peso.
- O Eremita: jornada interna pela busca de sentido.
- A Torre: destruição que libera espaço para o novo.
- A Morte: encerramentos que possibilitam recomeços.
Lidas sem determinismo, essas cartas deixam de ser avisos sobre “o que vai acontecer” e se tornam convites para ações conscientes.
Exercícios para unir filosofia e tarot na prática
- Tiragem da Escolha Livre – disponha duas ou três opções sobre a mesa e, em vez de apontar a “melhor”, explore profundamente as implicações de cada uma.
- Diálogo com a Carta – escreva um texto como se estivesse conversando com a carta sobre suas dúvidas.
- Jornada do Sentido – escolha cartas que representem o momento atual, os recursos que você tem e o significado que deseja criar para o futuro.
Esses exercícios são poderosos porque mantêm o consulente no papel de protagonista.
Meu método para leituras existencialistas no tarot secular
Ao unir filosofia e tarot, sigo três passos fundamentais:
- Entender o contexto – antes das cartas, ouvir é essencial. Saber o que preocupa, o que motiva e o que está em jogo.
- Explorar possibilidades – apresentar as cartas como cenários abertos, não como sentenças fechadas.
- Reforçar a autonomia – encerrar lembrando que, no fim, a escolha está sempre nas mãos do consulente.
Esse método transforma cada leitura em um espaço de reflexão e decisão consciente.
Leituras complementares
- Livro: O Ser e o Nada — Jean-Paul Sartre.
- Livro: O Mito de Sísifo — Albert Camus.
- Site: Stanford Encyclopedia of Philosophy – Existentialism.
- Artigo do mesmo blog: “Tarot como Espelho do Inconsciente: Um Caminho para a Autoexploração Profunda”.
FAQ – Existencialismo no Tarot
O que significa aplicar o existencialismo no tarot?
É usar o tarot como ferramenta de reflexão sobre liberdade, escolhas e responsabilidade, sem previsões deterministas.
Como o existencialismo no tarot contribui para o autoconhecimento?
Ele convida a olhar para si como autor da própria vida, usando as cartas como espelhos de possibilidades.
O existencialismo no tarot é diferente de uma abordagem psicológica?
Sim. A abordagem psicológica foca em processos internos; o existencialismo enfatiza liberdade e sentido construído.
Quais cartas mais representam o existencialismo no tarot?
O Louco, a Justiça, o Eremita, a Torre e a Morte.
O existencialismo no tarot ajuda a tomar decisões difíceis?
Sim, ao mostrar cenários e consequências, mas sem dizer qual caminho seguir.
É possível aplicar existencialismo no tarot sem conhecer filosofia?
Sim, mas estudar conceitos básicos aprofunda as leituras.
Como começar a estudar existencialismo no tarot?
Ler autores como Sartre, Camus e Kierkegaard, e praticar leituras que explorem liberdade e responsabilidade.
E você, já viveu uma leitura em que percebeu que a resposta não estava na carta, mas na sua escolha?
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